Kingdom Come: Deliverance II é uma passagem de ida para a europa medieval

"Audentes Fortuna Iuvat"

• Essa análise possui um spoiler de uma das melhores missões do game.

• Plataforma jogada: Steam

• Escrito por: Griffith, fundador da DungeonBits 

O que é Kingdom Come: Deliverance II?

O game foi desenvolvido pela Warhorse Studios e publicado pela Deep Silver. Graças ao seu sucesso, o jogo custou 41 milhões de dólares e vendeu mais de 1 milhão de cópias em menos de 24 horas, recuperando o investimento e gerando lucro, o que é incrível por si só.

Kingdom Come 2 é um RPG de ação em primeira pessoa que se passa algum tempo após o primeiro jogo. Você joga como Henry e, junto de uma comissão diplomática, embarca em uma missão para evitar uma possível guerra entre dois reinos. Mas esse é apenas o começo de uma longa aventura. É possível jogar um pouco com Godwin em certos momentos cruciais do game, e lá você tem um papel mais diplomático por assim dizer, mas não foge das batalhas insanas.

História e Escolhas

A história de Kingdom Come 2 é longa e leva tempo para ser contada. Ela tem inúmeras reviravoltas e momentos "prepare to cry" de sobra. E, claro, suas escolhas têm um peso enorme: pessoas vivem e morrem de acordo com suas decisões.

"Esse é um bom exemplo de como era viver nessa época"

Não vou entrar em detalhes sobre a trama, mas você encontrará de tudo um pouco, cercos, guerras, emboscadas, corridas de cavalo, disfarces, pessoas querendo te usar, condes e duques em seu caminho e, claro, muitos companheiros carismáticos e memoráveis. Um dos segredos para criar um RPG de qualidade é ter personagens que despertem o interesse do jogador, e acredite, Kingdom Come 2 entrega isso de forma incrível.

"Eu só posso pagar com ferro"

Você é humano, e o jogo deixa isso bem claro. Nas horas iniciais, você é largado em uma cidade sem nada, com todos desconfiando de você. O jogo te dá liberdade para assumir o controle e tomar suas próprias decisões.

Eu passei horas procurando emprego, fugindo de cachorros no mato, arrumando brigas, roubando casas e até sofrendo bullying por estar sujo e apenas de cueca. Para piorar, só depois de um bom tempo descobri que poderia trabalhar para um ferreiro, que me daria roupas para vestir. Só para você ter uma ideia, fiz um post no X há um tempo com algumas das coisas que vivi durante as primeiras horas do jogo:

Polêmicas

Houve também uma polêmica porque, aparentemente, o jogo inclui um romance gay. Eu achei isso uma completa besteira, pois, em um RPG onde você tem escolhas, cabe a você decidir se quer seguir esse caminho ou não. Reclamar disso me parece injusto, já que nada é forçado.

"É aqui que as músicas que você ouve são produzidas"

Além disso, muitas das supostas informações que vazaram antes do lançamento, como a alegação de que haveria uma cena de sexo gay ininterrupta, são mentiras. Inclusive, o jogo chegou a ser banido na Arábia Saudita por conta de cenas como essa. Pelo menos, essa parte do banimento é verdadeira. O resto são apenas boatos e tentativas estúpidas de decidir se o jogo é ou não "woke" para justificar um boicote. O mesmo está ocorrendo com Ghost of Yotei, porque um dos devs que teve a infelicidade de participar do desastre chamado de "Dragon Age The Veilguard" foi para o estúdio que está desenvolvendo o mais novo game de samurai da Sucker Punch.

"Se isso não é fofo, eu não sei o que é"

Ainda sobre Kingdom Come 2, é triste que esse tipo de coisa acontece hoje em dia, mas é reconfortante ver que os desenvolvedores realmente se esforçaram para criar um jogo divertido e focado nas escolhas do jogador, onde a imersão acontece de forma natural. Percebi que várias pessoas fizeram a missão da peregrinação por exemplo, na qual você pede perdão pelos seus pecados e precisa caminhar até uma cruz em um local específico para rezar. Segue um outro exemplo do nível de liberdade que o game te permite:

"Post do mestre Flesh a respeito do game, são tantas possibilidades"

O que acho incrível é que as pessoas no meu círculo de amizade estão se divertindo e compartilhando suas experiências, e isso não tem preço. O poder que Kingdom Come tem, ao te transportar para mais de 600 anos atrás na Boêmia, é surreal. Poucos jogos conseguem ser imensos, lentos e, ainda assim, prender o jogador de uma forma tão positiva.

Ambientação ou volta no tempo?

O game tem várias cidades através do mapa, nelas você terá várias pessoas que tem suas rotinas, eles dormem, comem, trabalham, bugam pelo cenário (literalmente), você pode comprar roupas, armaduras, comida, reparar seus itens, jogar dados com os bêbados, dar esmolas para mendigos, correr de cachorros, e se ficar sem tomar banho todo mundo vai reclamar, são várias atividades, da para ir roubando todo mundo durante a noite e revender as coisas depois, eu particularmente virei o maluco ta tocha, eu fiz uma carnificina em vários vilarejos, matava todo mundo que estava fora da cidade e vendia tudo. Mas é legal ver os costumes antigos, a forma como as pessoas falam, os diálogos que sempre exaltam a fé, ferramentas usadas no campo que não vemos faz séculos, é incrível, o nível de detalhes é extremamente rico.

Até para colocar um capacete, é preciso usar uma proteção na cabeça, por exemplo. As roupas se sujam, e você precisa mandá-las para costura caso se rasguem em combate. Também é necessário limpar o sangue delas após as batalhas, caso contrário, os guardas podem suspeitar. Além disso, não podemos usar roupas recém-roubadas para evitar despertar desconfiança.

Habilidades e um sistema de RPG bem bem feito

Se carregar peso em excesso, você ficará mais lento. Se comer demais, passará mal; se comer de menos, também. Você pode sofrer sangramentos que precisam ser estancados com curativos, além de criar tônicos para fortalecer seu personagem. Para adquirir habilidades, é necessário ler livros ou praticá-las ao ar livre, como no caso das lutas com espadas ou da equitação.

"As casas de banho são definitivamente lugares para sem vergonhas"

Podemos carregar mais peso quando ficamos mais fortes, podemos negociar melhores preços com mercadores, nosso poder de persuação aumenta conforme mentimos ou ganhamos no argumento com as pessoas que encontramos. Outra opção é encontrar pessoas talentosas nas cidades e pagar para que elas te ensinem novos talentos ou habilidades, deu para notar como o game é rico em detalhes não é?

"O trailer mostrando a imersão do game"

Ainda tem o fato de que podemos aprender profissões como ferreiro, assim fazendo nossas próprias armas e armaduras, e claro, podemos comprar ou procurar os materiais para isso acontecer, podemos bancar o caçador, ou fazer remédios para vender, talvez venenos se você for alguém maligno, e por aí vai.

"Henry todo sujo"

Bugs e Otimização

Infelizmente algo que quase estragou minha experiência foram os bugs, tive vários deles, desde os mais simples, até os que quase fizeram eu perder meu save, vou descrever alguns, NPCS sentados no vento, NPCS não respondendo as quests, clipando dentro de paredes, subindo em casas invisíveis, dentro outros, porém um deles me fez quase enlouquecer e perder mais de 30 horas de progresso, eu entrei em combate, venci a luta e descobri que o game me deixou em um perpétuo estado de combate, ou seja, eu não podia comer, usar remédios, e estava sangrando, eu não sabia o que fazer, eu só ia morrer e se carregasse o save, eu voltava para o mesmo estado devido ao salvamento de progresso automático. Eu consegui resolver o problema começando outra missão principal aí o game resetou o status de combate.

O primeiro game lançou em um estado bem triste, infestado de bugs e vários deles sérios, e claro, o desempenho nele deu o que falar, era bem mal otimizado, já o segundo game lançou com a otimização extremamente bem feita, o que é bem raro hoje em dia, ainda mais para um game desse escopo. Inclusive foi noticiado hoje através da Dungeon Bits que o time do XBOX Series S ajudou na otimização do game e assim colaboraram para que ele fosse melhorado nas outras plataformas.

Combate diferenciado

Vai parecer engraçado mas o combate é a parte que menos gosto do game, e sim, você vai precisar ficar bom nele, e precisa aprender algumas habilidades básicas para não se lascar depois, o combate é fácil contra um inimigo, mas se juntarem três de uma vez a coisa fica feia, eu entendo que faz sentidona vida real você lutar contra três pessoas ser algo bem complexo, e essa é a ideia dos devs, e está tudo bem, mas eu prefiro o combate de outros games como Elden Ring ou Ninja Gaiden por exemplo, mas eu entendo que são games diferentes com propostas diferentes.

Eu demorei muito para me acostumar com o combate, é outra coisa poder lutar quando seu personagem sabe as habilidades, você destroi todo mundo e vira uma lenda, mas o caminho até lá é complicado, explicar o combate é um tanto difícil, você precisa usar os direcionais para defender, ou escudo para dar perry e se proteger, enfim, se o inimigo ataca pela direita você precisa defender no mesmo lado, ou pode usar um ataque direto vindo da direção contrária, pode também usar o parry para atordoar o adversário e responder com uma pancada que vai fazer ele ver estrelas. É um tanto complicado de explicar, mas pegando o jeito as coisas melhoram muito.

Então, lembra do Zizka? É a estátua dele lá na República Tcheca!

Opiniões

Kingdom Come: Deliverance II é um jogo gigante, ele leva tempo para ser compreendido, e até mesmo apreciado em certos casos, mas ele vai te transportar para uma outra era, uma era onde as coisas eram mais simples, ou não, uma simples briga em uma taverna pode levar você para um acampamento de selvagens onde você bebe até não poder mais, sai pela floresta cantando em uma língua que não entende e pede conselhos de vida para um cachorro, é, esse o nível da escrita do game, ele não para de te surpreender, e melhor ainda, ele parece nunca acabar, é um mundo imenso e cheio de mistérios, pessoas escondendo segredos e, claro, conflitos violentos, mas claro, que não posso deixar de dizer que a escrita é fantástica, os personagens conseguem passar um sentimento de que pertencem nesse mundo, Devil, Ziska, Godwin, Hans, dentre outros, o que não falta são personagens interessantes.

"Você disse algo a respeito de salames?"

O game tem um momento que me chamou muito a atenção, o nível de detalhes, consistência, e entrega que ele teve em certas partes foi algo surreal, é como se o game decidisse punir o jogador o suficiente para ele buscar uma luz e após muita luta, essa luz chegasse e ela vem da melhor forma possível.

(!!!!! SPOILER ALERT !!!!!)

Pule esse trecho abaixo caso queira evitar um put* spoiler

Henry e seus aliados estão em um cerco e, no início, tudo parece dar certo. Todos estão animados, o inimigo está sendo repelido. Mas então vem o momento de escuridão: após várias tentativas de ataque, você e seus aliados começam a se cansar. A comida começa a acabar, as pessoas dentro da fortaleza choram, e o desespero toma conta. Doenças e fome começam a fazer vítimas, e há um momento em que você até procura o cachorro da fortaleza para ter algo para comer. Os feridos são muitos, e a situação só piora, até que os inimigos finalmente conseguem invadir o portão principal. Apenas o castelo ainda não caiu sob controle do exército rival, mas a derrota parece inevitável. Os heróis estão em menor número, com equipamentos inferiores, cercados e isolados, sem qualquer chance de fuga.

Então surge a luz: Henry, que havia fugido durante a noite para resgatar um amigo do acampamento inimigo, passou todo esse tempo buscando ajuda de seu pai, Radzig, e de Hanush, os nobres que apoiavam o rei Wenceslas. Em uma cena digna de O Senhor dos Anéis, eles marcham para o combate, destruindo tudo e todos à sua frente. As tropas do rei Sigismund não têm a menor chance e rapidamente sucumbem. Godwin e os demais sobreviventes resistem por mais um dia, colocando fim aos planos de Sigismund.

(!!!!! FIM DO SPOILER !!!!!)

Esse é um dos momentos mais incríveis que já testemunhei em um jogo. É o principal motivo pelo qual recomendo este RPG para todos os fãs do gênero. Ele sabe o quanto o jogador pode ser punido, o quão desafiador e frustrante tudo pode ser. Mas quando algo tão épico acontece, é como uma verdadeira catarse, um momento que lava a alma.

Nota Final: 9/10

Recomendado para amantes de RPG sem frescuras, que adoram ficar imersos em um mundo que requer atenção, tempo, e aprendizado, ou seja, se você for o cara dos 100 vídeos de tiktok em 2 minutos esse game não é para você, se não se incomoda com bugs menores então está tudo bem, afinal Kingdom Come: Deliverance II é um sério candidato a Game Of The Year até esse momento, claro que o ano ainda tem 12 meses para acabar, e muita coisa pode tomar seu lugar, mas dos três lançamentos grandes que pude jogar até aqui, esse é sem sombras de dúvidas o melhor, e definitivamente junto de Monster Hunter Wilds e Like a Dragon: A Pirate Yakuza in Hawaii, deve fechar a santíssima trindade de games de qualidade lançados nesse mês.

"Que você tenha uma excelente semana!"

Considerações Finais:

-Muitos Bugs, já era esperado para ser sincero

-O game é bem longo, levei quase 70 horas para finalizar, e isso que foquei nas quests principais boa parte do tempo

-Trilha sonora é excelente para ficar imerso

-Liberdade total para explorar

-A exploração é recompensadora

-O combate é único e demanda tempo para ser masterizado

-Tem easter eggs bem interessantes

-A história é longa, mas muito bem trabalhada

-As mortes dos NPCS impactam o game

-Companheiros memoráveis em sua jornada

-Sistema de habilidades bem trabalhado, e trabalhoso para ser upado.

-Side Quests são a cereja do bolo

-O game custa 300 reais, eu acho muito caro, sim, o game é ótimo, mas 300 reais é um preço salgado para um cidadão comum pagar independente do game.

-Joguei em inglês, porém o game está disponível em português (menos dublagem) também.

"Segue a gente no X! afinal, a fortuna favorece os audaciosos"